terça-feira, 26 de junho de 2012

O Senhor do Lado Esquerdo






A história e a geografia da cidade do Rio de Janeiro no início do século XX é contada no livro de Alberto Mussa, O SENHOR DO LADO ESQUERDO, O Romance da Casa das Trocas.
O livro recebeu o Prêmio de Melhor Livro de Ficção publicado em 2011, pela Academia Brasileira de Letras e o Prêmio Machado de Assis 2011, da Biblioteca Nacional na categoria romance.
Misturando fatos reais com ficção, erotismo e crime, a proposta do autor foi criar um romance/novela policial contado através dos crimes que aconteceram, cada um deles num século na cidade do Rio de Janeiro, e, a partir daí, surge a história que resultou no livro, desenvolvido pela natureza imaginativa do autor.
“O que define uma cidade é a história dos seus crimes”. Partindo daí, o autor percorre o Rio de Janeiro, do século XV ao século XX, descrevendo diversos crimes que antecederam ao crime da Casa das Trocas, local onde foi a residência da Marquesa de Santos, no bairro de São Cristovão, e onde hoje abriga o Museu do Primeiro Reinado.
A Casa, que foi propriedade do Barão de Mauá, foi cedida ao médico alemão Miroslav Zmuda, que a transformou numa clínica e num prostíbulo, freqüentado por gente importante, mantida com discrição e protegida pelas autoridades.
Foi nesse local que o secretário da presidência da república do governo Hermes da Fonseca foi encontrado morto após um encontro amoroso, e é a partir daí que vários crimes antecedentes são contados até a elucidação do crime principal, todos envolvendo a sexualidade humana e muito humor.
O narrador está presente no texto dando uma verdadeira aula de história. Ao falar das origens da capoeira, das tradições indígenas e africanas, dos primeiros colonizadores da cidade, portugueses, negros e índios, de tesouros escondidos e nunca encontrados, ele cria um compêndio mitológico da cidade.

Alberto Mussa é carioca, tem 51 anos e é avaliado pela crítica literária como um dos autores mais inventivos e singulares da atual geração. Tem sua obra publicada em dez países e traduzida para o inglês, francês, espanhol, italiano, turco, árabe e romeno, e vem sendo estudada em diversas universidades na Europa.
Alberto já recebeu os prêmios Casa de Las Americas e duas vezes o prêmio da Associação Paulista de Críticos de Arte, com os livros O Enigma de Qaf e O Movimento Pendular, e nos dá o seguinte conselho:

 “Nunca leia por hábito: um livro não é uma escova de dentes. Leia por vício, leia por dependência química.  A literatura é a possibilidade de viver vidas múltiplas, em algumas horas. E tem até finalidades práticas: amplia a compreensão do mundo, permite a aquisição de conhecimentos objetivos, aprimora a capacidade de expressão, reduz os batimentos cardíacos, diminui a ansiedade, aumenta a libido. Mas é essencialmente lúdica, é essencialmente inútil, como devem ser as coisas que nos dão prazer”


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Publicado no jornal O Debate Rio das Ostras em 22/06/2012













quarta-feira, 20 de junho de 2012

Luiz Carlos Miele


Com 74 anos completados no último dia 31 de maio, Luiz Carlos Miele não pára, e perguntado sobre o que mais gosta de fazer, ele responde – sucesso
Paulista, ele diz ser “paulioca”, pois veio para o Rio na década de 1960 para trabalhar como produtor de TV e foi ficando.
Considerado um showman, Miele já trabalhou como produtor musical, ator, comediante, mestre de cerimônias, apresentador de TV e, atualmente, está no teatro vivendo o papel-título da peça O Mágico de Oz.
Quando chegou ao Rio, Miele conheceu Ronaldo Bôscoli e a parceria rendeu mais de oitenta eventos diferentes. O primeiro deles foi um show de Sérgio Mendes no Beco das Garrafas, um complexo informal de boates em Copacabana, onde a Bossa Nova se desenvolveu.
Miele e Bôscoli foram donos da boate Monsieur Pujol, onde se apresentaram Dionne Warwick, Burt Bacharach e Stevie Wonder.
Durante trinta anos a dupla produziu os shows de Roberto Carlos, e Miele, há vários anos, participa do projeto “Emoções para Sempre” a convite de Roberto. É responsável pela animação do piano bar e do karaokê em alto mar, onde os passageiros do navio participam de um karaokê com músicas do Rei e os vencedores recebem prêmios das mãos de Roberto.
Na TV, foi diretor e produtor dos programas Noite de Gala, O Fino da Bossa, Show em Simonal, Elis Especial, Fantástico, Praça da Alegria, Viva Marília, Escolinha do Barulho e outros.
No teatro produziu e dirigiu vários musicais. Trabalhou com Elis Regina, Sérgio Mendes, Lennie Dale, Sarah Vaughan, Peri Ribeiro, Taiguara, Milton Nascimento, Alcione, Sandra Brea e outros.
Foi mestre de cerimônias do Prêmio Moliére, o maior prêmio do teatro brasileiro, durante 10 anos.
Foi diretor de projetos especiais da Casa de Cultura da Universidade Estácio de Sá Rio de Janeiro, onde produziu vários espetáculos e teve sua biografia escrita por Luis Carlos Lisboa, a partir de seu depoimento para o departamento de pesquisa da universidade.
Participou dos filmes O Homem Nu, Casa da Mãe Joana, As Aventuras de Agamenon e, atualmente, está filmando Os Penetras, com Mariana Ximenes.
Publicou, em 2005, o livro Poeira nas Estrelas, onde conta a história da boemia sem mentiras, só com verdades melhoradas.
Com Fernanda Torres, estrelou a série Amoral da História, adaptação de dois livros de Millôr Fernandes no canal Multishow e, com Marcos Palmeira, a série Mandrake, da HBO. Também participou no início de 2012 da minissérie O Brado Retumbante na Rede Globo, no papel de um senador. Em Tapas e Beijos fez uma participação especial como Giusepe, pai de Armane, personagem de Vladimir Brichta.
Em abril de 2012, participou com Chico Caruso e Rogéria, às sextas feiras no Bar do Tom, do espetáculo Homenagem a Trois, com canções de Tom Jobim e Lupicínio Rodrigues.
A pedido da Secretaria de Turismo do Rio de Janeiro está produzindo dois projetos culturais: um para a Copa de 2014, chamado Show de Bola, que vai reunir várias canções sobre futebol e outro para as Olimpíadas de 2016, sobre a Bossa Nova.
Nos planos para o futuro estão a reinauguração do Beco das Garrafas, novas séries de TV e organizar nova montagem da Sinfonia do Rio, de Tom Jobim e Billy Blanco.
Casado com Anita há quase cinqüenta anos, Miele define que o segredo é ter dois banheiros em casa. “Ela me conhecia bem. Noivamos numa noite e viajei para um show na madrugada”, conta.
Quando completou 70 anos disse: “Recentemente fui a um evento e encontrei vários amigos de outros tempos. Muitos sentadinhos, de bengala, a perigo. E vi dois ou três bandidos em plena forma! Então me convenci que o pecado favorece a preservação da juventude”.






Publicado no jornal O Debate - Rio das Ostras em 15/06/2012

quinta-feira, 7 de junho de 2012

O Pagador de Promessas


O único filme brasileiro que recebeu o prêmio máximo do mais importante festival de cinema do mundo (Festival Internacional de Cinema de Cannes) está completando 50 anos.
O Pagador de Promessas, de Anselmo Duarte, baseado na peça homônima de Dias Gomes, conta a história de Zé do Burro, um homem que vive numa pequena propriedade rural. Um dia, o burro de estimação de Zé é atingido por um raio e ele vai a um terreiro de candomblé fazer uma promessa para que Santa Bárbara/Iansã salve o animal. Quando o animal se restabelece, Zé começa a cumprir sua promessa: doa metade do seu sítio e parte carregando nas costas uma cruz de madeira para depositar na igreja da santa em Salvador.
Os filmes brasileiros da época eram musicais e comédias que ficaram conhecidos como chanchadas, e, com o advento da televisão, esses temas passaram a fazer parte da programação da TV.
Anselmo Duarte morou muitos anos fora do Brasil e quando retornou tinha a intenção de fazer um filme sério, diferente dos que eram produzidos até então.
A primeira opção foi Madona do Cedro, de Antonio Callado, porém a cessão dos direitos cinematográficos já tinha sido negociada.
Dias Gomes estreou O Pagador de Promessas no Teatro Brasileiro de Comédia e já havia prometido a Flávio Rangel a cessão dos seus direitos cinematográficos, mas Anselmo conseguiu convencê-lo a lhe dar essa cessão de direitos.
Anselmo queria Odete Lara como a prostituta Marli e Miguel Torres como Zé do Burro, mas a atriz declinou do convite.
A atriz Maria Helena Dias viveria a Rosa, porém uma pneumonia a afastou das filmagens. No seu lugar entrou Glória Menezes, que a princípio faria o papel da prostituta Marli, que foi vivida por Norma Bengell.
Leonardo Vilar vivia o Zé do Burro no teatro, mas Anselmo disse que o papel no cinema não lhe servia pois ele estava muito forte e o personagem era de um magro camponês que passava fome. Leonardo emagreceu 12 quilos em um mês e viveu o personagem. Foi seu primeiro papel no cinema.
Diferente do Oscar que é apresentado em uma única noite, o Festival de Cannes dura 11 dias. Não é só premiação, atores e diretores vão para promover, vender e divulgar seus trabalhos.
Os filmes são apresentados em duas sessões, uma diurna e outra noturna. Na primeira exibição  o filme foi muito elogiado. Na sessão noturna o filme foi aplaudido várias vezes e quando terminou era unânime o comentário “c’est le grand prix”. O filme vencedor já tinha sido escolhido. O longa-metragem concorreu com outros 70 filmes de 36 países.
Em 1963, O Pagador de Promessas foi indicado ao Oscar de melhor filme estrangeiro. Foi a primeira indicação do Brasil na premiação.
A Palma de Ouro foi instituída em 1955. Desde 1946, quando aconteceu pela primeira vez, o Festival distribuía o Grand Prix do Júri ao vencedor.
O filme é reverenciado até os dias de hoje nos festivais internacionais de cinema.  Mario Abbade, presidente da Associação de Críticos de Cinema do Rio de Janeiro se ressente pela forma como o filme é tratado no Brasil e diz que O Pagador de Promessas deveria ser matéria obrigatória em todas as faculdades de cinema do país.
Em 1988, a Rede Globo exibiu a minissérie O Pagador de Promessas em oito capítulos (seriam 12, mas, por abordar temas como a reforma agrária, sofreu cortes da Censura Federal), com José Mayer e Denise Milfont nos papéis principais.
Lançado em 1959, o livro está na 36ª edição e foi o trabalho mais premiado de Dias Gomes.






Publicado no jornal O Debate Rio das Ostras em 01/06/2012